Alegria

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terça-feira, 1 de abril de 2014

# 017 - Soneto - Gregório de Matos

Poema de hoje # 017
Poetas, o Brasil já teve e tem muitos, que os deuses são bons. Poetas tão contundentes e corajosos como Gregório de Matos, talvez contem-se nos dedos de uma mão. De uma família de posses, estudou em Portugal e exerceu cargos importantes em sua terra, a Bahia. Casa-se com Maria dos Povos, "honesta, formosa e pobre" como ele a descreve. E abandona tudo saindo pelo Recôncavo Baiano como cantador em meio ao povo ("pessoas generosas") e suas festas. É impiedoso com as autoridades e com os nobres, a quem satiriza duramente, ganhando o título de "Boca do Inferno". Os poderosos não lhe perdoam as sátiras à corrupção, aos desmandos e à mediocridade. Dizem que adorava usar cabeleira postiça, gostava de ficar nu e decorava seu escritório com bananas. É deportado para Angola onde morre em 1696. O pequeno poema que se segue é uma pálida amostra do seu talento. Lamentavelmente, mais de 300 anos depois ainda nos parece atual:
Gregório de Matos (Poemas escolhidos)
DESCREVE O QUE ERA NAQUELE TEMPO A CIDADE DA BAHIA [SALVADOR]
SONETO
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
Eis aqui a cidade da Bahia.

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