Alegria

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

# 058 - Sábado, Estação da Luz - Heitor Ferraz Melo

Poema de hoje # 058
Aqui fica minha humilde homenagem a São Paulo, a quem devo tanto: deliciosas dias de debate e estudo na PG em Antropologia da USP, minha amada mestra Maria Lucia Montes, a pizzaria L'Speranza, meu amigo André Andre Argolo, um dia inesquecível na Rua Javari e minha afilhadinha querida, paulistana de nascimento mas que leva o mar no nome.
Sábado, Estação da Luz, Heitor Ferraz Melo (Traçados diversos, uma antologia de poesia contemporânea)
Tinha visto as colunas de ferro da estação
a passarela de ferro da estação
o rosto de ferro da estação
as pernas de ferro do homem
que rolava pela estação numa cadeira de ferro
Sim, precisava gravar as vozes de ferro da estação
a ladainha da mulher de ferro
que pedia dinheiro dentro do trem
quando o trem saía da estação
A mulher, o vendedor de termômetros digitais
o homem que trazia uma engenhoca chinesa
que era lanterna e isqueiro ao mesmo tempo
Pareciam todos atores silenciosos
que só surgiam para o palco
quando o trem apitava e saía da estação
a meia contra arranhões
contra quedas do aparelho,
o limpador de línguas
os pés deformados, elefantíase
termômetro é cinco digital
Tinha de registrar a entonação
a dramatização das vozes de ferro da estação
o silêncio dentro da estação
antes do trem começar a apitar
Selecionar cinco trechos para depois fundir
Saia daquele lugar, dizia
muda sua vida, vai para a Igreja
ninguém precisa passar por essa humilhação
O trem que saía da boca de ferro da estação
a boca de ferro da estação
os trens mortos de ferro e ferrugem
nos abandonados acostamentos da estação,
em pés de elefantíase, deus te abençoe e te dê saúde
Saúde de ferro na estação
Tudo é uma questão de estocagem
Na estação a morte de todos apita
o apito é de ferro na estação

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