Alegria

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

# 040 - Invenção de Orfeu - Jorge de Lima

Poema de hoje # 040
A Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (1893-1953), é uma obra ímpar na poesia brasileira. Um poema do tamanho da Odisséia (12 mil versos), de Homero, mas que trata da modernidade em um diálogo com várias tradições e emprega várias formas poéticas. É um trabalho admirável por sua riqueza e complexidade. Divide-se em dez cantos e o Canto I, Fundação da Ilha, começa assim, em um diálogo crítico com Camões:
Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.
Nobre apenas de memórias,
vai lembrado de seus dias,
dias que são as histórias,
histórias que são porfias,
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.
Alegrias descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
todas as naus alertas
de vária mastreação,
mastros que apontam caminhos
a países de outros vinhos.
Esta é a ébria embarcação.
Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.

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