Poema de hoje # 046
Quem sabe tudo (ou quase) de Conceição Evaristo é minha amiga Bárbara Araújo, que acaba de se tornar mestre em História pela UFF com uma linda dissertação: 'Recordar é preciso': Conceição Evaristo e a intelectualidade negra. O pouco que sei é que Conceição nasceu em uma favela de Belo Horizonte, tornou-se professora, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a participar do Grupo Negrícia - Poesia e Arte de Crioulo, ao mesmo tempo em que cursava Letras. Hoje é doutora em Literatura Comparada pela UFF e uma poeta e romancista conhecida e respeitada, traduzida em várias línguas. Lendo vocês entenderão melhor:
Vozes-Mulheres, Conceição Evaristo (Poemas de Recordação e outros movimentos)
A voz da minha bisavó ecoou
criança nos porões do navio,
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
criança nos porões do navio,
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome,
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome,
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz da minha filha
Se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz da minha filha
Se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade
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