Alegria

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

# 046 - Vozes-Mulheres - Conceição Evaristo

Poema de hoje # 046
Quem sabe tudo (ou quase) de Conceição Evaristo é minha amiga Bárbara Araújo, que acaba de se tornar mestre em História pela UFF com uma linda dissertação: 'Recordar é preciso': Conceição Evaristo e a intelectualidade negra. O pouco que sei é que Conceição nasceu em uma favela de Belo Horizonte, tornou-se professora, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a participar do Grupo Negrícia - Poesia e Arte de Crioulo, ao mesmo tempo em que cursava Letras. Hoje é doutora em Literatura Comparada pela UFF e uma poeta e romancista conhecida e respeitada, traduzida em várias línguas. Lendo vocês entenderão melhor:
Vozes-Mulheres, Conceição Evaristo (Poemas de Recordação e outros movimentos)
A voz da minha bisavó ecoou
criança nos porões do navio,
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome,
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz da minha filha
Se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade

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