Poema de hoje # 024
Homossexual e socialista, o poeta e dramaturgo andaluz foi assassinado com um tiro pelas costas no início da Guerra Civil Espanhola. Federico García Lorca tinha apenas 38 anos e muitos planos. Dentre eles um livro chamado Sonetos do Amor Obscuro, que foi publicado após a sua morte. Tem onze poemas e em apenas um o amor pelo mesmo sexo é revelado. Mas em todos eles pulsa uma paixão avassaladora, com o perdão da redundância, transformada em uma arte que ainda hoje escorre sangue e vida. Foi difícil escolher um, mas fiquei com este:
Noite de amor insone, Federico Garcia Lorca (Sonetos do Amor Obscuro/ Divã do Tamarit)
A noite sobre os dois com lua cheia,
eu me pus a chorar e tu, tu rias!
Teu desdém era um deus; minhas sombrias
queixas, pombas e instantes em cadeia.
eu me pus a chorar e tu, tu rias!
Teu desdém era um deus; minhas sombrias
queixas, pombas e instantes em cadeia.
A noite sob os dois. Voz de dor cheia,
por longes bem remotos tu gemias.
Minha dor era um grupo de agonias
sobre teu débil coração de areia.
por longes bem remotos tu gemias.
Minha dor era um grupo de agonias
sobre teu débil coração de areia.
Chegou a aurora e uniu-nos sobre a cama,
as bocas postas no esguichar gelado
de um sangue que, incessante, se derrama
as bocas postas no esguichar gelado
de um sangue que, incessante, se derrama
E o sol entrou pelo balcão fechado
e eis que o coral da vida abriu a rama
sobre meu coração amortalhado
e eis que o coral da vida abriu a rama
sobre meu coração amortalhado
Nenhum comentário:
Postar um comentário